segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Minh nda mole vida na UAI RERESÓPOLIS - BETIM

Durante alguns anos me sensibilizei, pelo amor incondicional e pela luta. E talvez isso não me tocasse tanto caso não tivesse trabalhado na UAI Teresópolis. Deu para perceber o quão impotentes nos sentimos perante um filho nosso numa cama. Percebi que pequenos gestos fazem diferença para quem procura um pouco de conforto. Digo conforto e não pena, porque não há coisa pior para uma mãe do que ver os olhares piedosos e de pena quando o filho passa pelos corredores do hospital numa cama. Vi-me rodeada por gente competente e que humanamente querem para as pessoas o melhor. Conheci um paciente muito interessante, um senhor de 87 anos, que encontrava-se acometido de uma infecção generalizada e nas suas passadas pela recepção, perguntei se ele já havia parado para pensar sobre qual o propósito daquela doença em sua vida... Ele me respondeu que os médicos ainda não haviam descoberto. Questionei se ele achava mesmo que uma doença era apenas uma manifestação física. Ele ficou pensativo e não soube me responder... Então expus a forma como eu penso e disse que acreditava que ela era um convite a reflexão sobre como estamos nos conduzindo... Ele respondeu: "É realmente você tem razão, acho que eu tenho que reavaliar muita coisa em minha vida!" Começou a falar da sua família e de como foi o tempo em que trabalhou na PM, iniciou ali mesmo uma reavaliação... Reforcei que a doença nada mais é que um convite a voltarmos e fazermos tudo diferente e que no fundo de nossos seres nós até sabemos o porque de tudo isto e que nada é por acaso...Ele sorriu...Após dois dias ele faleceu. Cuidamos de pessoas que estão num momento de reavaliação, e a experiência do outro não é só do outro, estamos ali naquele momento compartilhando uma fase difícil, muitas vezes irreversível, não podemos sair todos os dias do plantão como se nada tivesse acontecido. Obviamente que também não temos que nos afetar a ponto de nos desestabilizarmos, mas o fato é que nosso trabalho é um aprendizado contínuo, o valor da sensibilidade, de conseguirmos nos colocar no lugar do outro e sermos continentes à sua dor e disponibilizarmos para o nosso paciente aquilo que temos de mais humano... calor...empatia... Hospital é um espaço de convivência, alguns poderão pensar que a convivência é só entre colegas de trabalho, ou somente entre paciente e equipe... Mas colegas de trabalho comumente tornam-se namorados, que se tornam maridos e esposas e pais,mães,irmãos... Ovídio traduz em muito o que assisti acontecer: "Amar é um não sei o quê, que vem não sei de onde; nasce não sei como; contenta-se não sei com quê; sente-se não quando; e mata não sei por quê". Começou inusitadamente, permaneceu não sei como, e terminou de uma maneira inesperada - pelo menos para mim... Mas o que quero deixar registrado aqui é que na UAI TERESÓPOLIS comecei e terminei uma linda relação, que ficará para sempre marcada no meu coração e que é assim que as pessoas entram e saem todos os dias, novas pessoas chegam, novas histórias,novos amores. Muitos foram aqueles que partiram, maiores ainda aqueles que foram socorridos, viveram e são gratos a melhor equipe de saúde que se encontra hoje no Hospital Municipal de Betim. Parabéns a todos!!! Este texto foi escrito por mim em Sex, 30 de Maio de 2008 09:38 Sem alterações de gramática, publico.

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